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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Pouca vogal só no sobrenome


“Amanhã talvez esse temporal saia do caminho. Dá pra escrever. O papel aceita toda, qualquer coisa”, esse trecho da música Depois da Curva da dupla Pouca Vogal fala da esperança de encontrar coisas melhores depois da curva, depois da chuva. Sim, não existe uma letra escrita por ele que não toque quem escuta, elas tem conteúdo... fazem tanto sentido que existem várias comunidades em mídias sociais para discutir sobre elas. Agora ele tem uma dupla de rock. Sim, uma dupla! Mas vou dizer uma coisa, esse duo “Rocks!”, como dizem os ingleses. Eles são o Pouca Vogal, formado por Humberto Gessinger e Duca Leindecker
Em entrevista a nossa repórter, Aline Frediani (AF), Humberto Gessinger (HG) nos conta sua tragetória até o Pouca Vogal (PV). Claro todo mundo se pergunta, como esses dois se conheceram? Porque saíram de suas bandas para formar essa dupla? Bom, a gente também tinha essas dúvidas, por isso você vai conferir tudo sobre HG e PV.
Humberto veio dos Engenheiros do Hawaii, “banda que montei em 1985 e com a qual, até 2008, lancei 18 discos e 5 DVDs. Já Duca vem da banda Cidadão Quem, formada em 1990, com 7 discos e 1 DVD lançado. Também já lançou um disco solo, além de fazer trilhas para cinema e teatro” diz Humberto apresentando o duo. 
Primeiro as coisas primeiras, a banda Engenheiros do Hawaii não acabou. Quando perguntamos a Humberto quando ele vai voltar com a banda ele foi bem direto: “ Pretendo voltar quando o Duca encher o saco de mim”.
A história dos dois é antiga, da segunda metade do século passado. “Ali por 85, eu encontrei na rua um moleque que tocava guitarra. Ele sabia que eu tinha comprado uma Fender Telecaster. Na época, não era fácil descolar instrumentos legais. O menino ficou de passar lá em casa pra conferir a guitarra. Fiquei chocado quando vi ele tocar. Tirou sons da minha guitarra que eu não imaginava que estivessem lá. Tocava demais! Técnica, estilo, emoção e o diabo a 4”, conta Humberto. Esse garoto era o Duca Leindecker que hoje está em tour pelo Brasil com o CD do Pouca Vogal com apenas 8 músicas.
Avançando um pouco na história, em 2004, Duca convidou AgAgê (Humberto Gessinger) para participar do CD/DVD Cidadão Quem No Theatro São Pedro, em Porto Alegre. “Tocamos Terra de Gigantes, uma canção que eu havia escrito e gravado com os Engenheiros do Hawaii”, diz. Coincidentemente as bandas dos dois teve uma pausa nos shows ao mesmo tempo e eles partiram para o Pouca Vogal. O nome da banda é uma brincadeira com os sobrenomes dos integrantes Leindecker e Gessinger. “Se quisermos fazer um pouco de sociologia de boteco, podemos falar de como as vogais vão rareando à medida em que descemos pelo mapa do Brasil. O frio vai aumentando, a vegetação fica mais tímida, o verde vai ficando mais parecido com o azul, as pessoas mais introspectivas. Imigrantes com suas consoantes. Ao mesmo tempo em que exageram, algo de verdadeiro guardam essas generalizações”, divaga Humberto.

Mas não se preocupem, eles têm poucas vogais somente nos sobrenomes pois esses “guris” fazem um som incrível. Existem 8 músicas que fazem parte do repertório do duo. Pelo site (WWW.poucavogal.com.br) o pessoal vai poder baixar de graça o CD completo. “Não estamos interessados em transformar esta atitude em um ‘assunto’. Nosso interesse nos intestinos da indústria cultural é próximo de nenhum. Nos shows, vamos tocar, além destas, algumas músicas dos Engenheiros do Hawaii e da Cidadão Quem”, afirma Humberto.

Confira parte da entrevista

AF: Há outros músicos acompanhando vocês?
AgAgê: Não. Só nós 2. É um formato que sempre me fascinou.  Seja um duo de violões clássicos como os irmãos Assad, uma dupla caipira como Pena Branca & Xavantinho, um lance pop como Simon & Garfunkel ou jazz como Larry Coryell & Philip Catherine, há algo especial quando duas pessoas estão tocando. Depois do solo, é o mínimo. Mas, nesse mínimo, pode rolar o máximo diálogo musical. Duca já fez trabalhos geniais em duos com Frank Solari e com Borghettinho.

AF: Quais instrumentos vocês usam?
AgAgê: Eu sigo nos instrumentos acústicos: violão, viola caipira, dobro, harmônicas, piano. Além da MIDI Pedalboard, que é um teclado que a gente toca com os pés. Duca toca guitarra, violões com afinações esquisitas e bombo legüero, um instrumento de percussão característico do pampa.
É bem intenso. Em momentos, eu toco violão, harmônica, faço baixos com os pés enquanto o Duca sola na guitarra e faz percussão. Tudo ao mesmo tempo. Geralmente, quando um artista chega à quilometragem em que chegamos, pensa em desfrutar do conforto de um repertório já conhecido e de vários bons músicos aparando arestas. Mas nós estamos vibrando em outras freqüências, definitivamente. Queremos sair da zona de conforto por achar que só tensa a corda vibra legal. A vida é mesmo muito curta pra ser pequena.

AF: Quais são e como surgiram as músicas novas?
AgAgê: TENTENTENDER: a idéia me veio num vôo enquanto eu observava a sombra do avião rastejando lá embaixo. Mandei uma demo para o Duca e ele reescreveu a melodia do refrão.
DEPOIS DA CURVA e BREVE: Duca me mandou as músicas e eu escrevi as letras. A primeira fala da esperança de encontrar coisas melhores depois da curva, depois da chuva. Talvez, o amanhã colorido. A segunda é sobre a dificuldade e necessidade de unir firmeza e delicadeza na hora de cair fora. Quando ser bravo é ser breve, hay que endurecer, pero sin perder la ternura.
POUCA VOGAL: escrevi um pouco para explicar o conceito, um pouco para falar da minha ida ao Rio de Janeiro e da volta à PoA. De lambuja, cita Piano Bar (uma canção dos EngHaw) e homenageia Kleiton & Kledir, que melhor souberam, até hoje, misturar regionalismo gaucho e música pop.

AF: A banda Engenheiros do Hawaii acabou?
AgAgê: Não. Pretendo voltar quando o Duca encher o saco de mim.

AF: Cidadão Quem acabou?
AgAgê: Que eu saiba, não.

AF: Gostaria de dizer algo mais?
AgAgê: Não sei por que, gostaria de dar nossas datas e locais de nascimento.
Humberto Gessinger: Porto Alegre, 18:30h do dia 24 de dezembro de 1963.
Duca Leindecker: Porto Alegre, 10:30h do dia 5 de abril de 1970.

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